PREFÁCIO

 

Sem darmos por ela, a Primavera está de novo à porta, trazendo o calor para nos aquecer a alma. É uma estação em que tudo renasce e que nos instiga a dedicar o nosso precioso tempo a um bom livro e, assim, embarcarmos numa viagem de formação pessoal. Para além da leitura, podemos ainda oferecer-nos para colaborar num espaço de utilidade pública ligado à leitura para desenvolvermos o âmbito da nossa prática formativa. Nesta edição de Os Livros e a Cidade, lançamos um desafio aos cidadãos mais atarefados: fazer voluntariado na biblioteca.

No início do ano passado, uma amiga minha despediu-se para ir trabalhar como voluntária na Biblioteca Xinxiang, uma biblioteca privada aberta ao público, situada na aldeia de Maichong, no ponto mais elevado da montanha Jindian Houshan, em Kunming. Pelas fotografias que me enviou, o local onde se encontra esta biblioteca parece ser um autêntico paraíso. Para além do Jardim Zuocang, recuperado de acordo com o seu formato original, pode ver-se um templo budista, uma casa de chá e uma área de cultivo. Muita gente trabalha arduamente toda a vida, provavelmente almejando por um lugar tão idílico como este sem nunca conseguir alcançá-lo. A meu ver, o voluntariado, sobretudo o voluntariado na companhia de livros numa biblioteca, é um trabalho que nos pode também proporcionar uma imensa alegria, que nada tem a ver com dinheiro nem com a idade.

Esta edição de Os Livros e a Cidade irá olhar para a nossa cidade e revelar que também em Macau não faltam pessoas simpáticas e solícitas, dispostas a oferecer o seu tempo precioso à biblioteca. Uns porque desejam aplicar os seus conhecimentos e competências, outros porque não querem deixar de estudar e trabalhar e outros ainda por ousadia juvenil – apesar das suas diferentes razões e idades, todos, à sua maneira, sentem a mesma vontade de contribuir. Talvez já vos tenha ocorrido que, por trás das estantes da biblioteca onde os livros se amontoam, se encontram vários voluntários a trabalhar afincadamente em silêncio. É impossível saber se o Céu se assemelha a uma biblioteca, mas podemos afirmar sem sombra de dúvida que os voluntários são os “guardiões do Céu”, irradiando luz com o seu amor e grande zelo.

Na coluna “Fala o Autor”, entrevistamos a equipa de produção do livro baseado no espectáculo original local Contos de Fadas do Mundo do Caos. Curiosamente, embora todos os autores e ilustradores sejam de Macau, a editora é a Gusa Publishers, de Taiwan, resultando num confronto textual intercultural e inter-regional. Deste ponto de vista, o livro reveste-se de maior amplitude do que a própria produção teatral.

Por sua vez, a secção das recensões volta, como sempre, a convidar vários críticos das regiões do Interior da China, Hong Kong, Macau e Taiwan para propor aos leitores uma selecção de livros de qualidade, explorando os seus segredos e antecedentes a partir de perspectivas muito distintas!